Robert Kurz - O IMPéRIO E OS SEUS TEóRICOS: "É perfeitamente claro em que consiste a lógica do imperialismo de exclusão: tendo em conta o processo global de crise, que se tornou impossível de dominar no interior da lógica económica capitalista, tem de se proceder a uma divisão fundamental do mundo em duas zonas ou sub-mundos. Dum lado, uma zona global de "relativa normalidade", caracterizada por procedimentos democráticos, um estado de direito burguês e a reprodutibilidade da vida assegurada à massa da população, onde a miséria produzida pela economia de mercado pode ser considerada minoritária, sendo ainda socialmente controlável. O carácter de desaforo do capitalismo tem de prosseguir a este nível como linha de conduta interiorizada, num estado mais ou menos pacífico. Esta zona inclui por enquanto os centros ocidentais, o Japão e os "enclaves de reprodutibilidade" ou "ilhas de produtividade" capazes de defrontar o mercado mundial, nas grandes regiões do globo que no seu conjunto já não são viáveis do ponto de vista capitalista. Do outro lado e pela mesma razão assistimos ao crescimento de uma zona global onde a economia de mercado já caiu no "estado de natureza" da concorrência capitalista. Esta zona, onde a sorte da maioria é a miséria, já não é susceptível de enquadramento nas formas do direito burguês.
Uma vez que a linha de demarcação entre as duas zonas é traçada cada vez mais nitidamente – literalmente com muros, vedações, barreiras eléctricas, zonas de morte etc. – impõe-se a comparação, não só com as fronteiras fortificadas da história e com a muralha da China, mas também com os impérios que lhes estavam ligados. A própria noção de imperialismo tem a sua origem nas ideias de dominação das velhas civilizações agrárias e no seu poder repressivo (latim imperium = poder de ordenar)."
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